A primeira presa política do Brasil

Bárbara de Alencar (1760-1832), avó do escritor José de Alencar e a primeira presa política da história brasileira, ganhou fama no Crato (CE), no Vale do Cariri, como uma mulher independente, rica e fazendeira, numa região conhecida pelo patriarcado, apoio à monarquia e completa submissão das mulheres. Católica fervorosa, Dona Barbara do Crato ficou viúva aos 40 anos e, juntamente com seus três filhos, participou ativamente de dois movimentos importantes da época da Independência de inspiração republicana, a Revolução Pernambucana de 1817 e a Confederação do Equador (1824).

No primeiro deles, Bárbara já tinha 57 anos quando comandava reuniões em seu Sitio Pau Seco para articular uma reação local contra os altos impostos da Cora cobrados dos fazendeiros. A Revolução Pernambucana (que pregava a ruptura com Portugal) conseguiu expulsar tropas monarquistas e instituir um governo provisório, que durou 75 dias (apenas 8 no Crato). A repressão da Coroa, envolvendo 8 mil homens, foi duríssima. Bárbara teve seus bens confiscados e passou três anos presa em condições degradantes.  Depois de solta, em 1824, aos 64 anos, se juntou aos três filhos revolucionários, agora na Confederação do Equador, conflito separatista quando o Brasil já era governado por D. Pedro I. Barbara viu dois filhos serem mortos, o padre Carlos José dos Santos e Tristão Gonçalves. O outro filho revolucionário, José Martiniano Pereira de Alencar, pai do autor de Iracema, sobreviveu e anos depois seria governador do Ceará. Jurada de morte, Bárbara trocou de endereços até morrer, aos 72 anos. O escritor Gylson Chaves, que publicou a biografia A invenção de Bárbara Alencar, afirma não ter encontrado referências da avó na obra de José de Alencar, monarquista convicto.