M.M.D.C.

Os quatro heróis paulistas da Revolução de 1932

A sigla M.M.D.C. representa as iniciais de quatro jovens paulistas (Mário Martins de Almeida; Euclides Miragaia; Dráusio Marcondes de Sousa e Antônio Américo Camargo de Andrade) que foram mortos durante um protesto em São Paulo, em maio de 1932, contra o governo ditatorial de Getúlio Vargas. O episódio causou forte comoção e acabaria sendo decisivo para o estado de São Paulo pegar em armas e deflagrar a Revolução Constitucionalista, no dia 9 de julho.

O contexto político da época contribuiu para a explosão de violência. Dois anos antes, Vargas havia liderado o golpe militar que pôs fim à República Velha (1889-1930), dando início a um longo período de governo autoritário, que se estenderia até 1945. Um dos objetivos de Vargas era acabar com a política do café-com-leite — acordo firmado entre as oligarquias estaduais e o governo federal durante a República Velha para que os presidentes da República fossem escolhidos entre os políticos de São Paulo e Minas Gerais.

Com a Revolução de 30, Congresso Nacional, Assembleias Legislativas e Câmaras Municipais foram fechados. Vargas governava de forma discricionária, sem uma Constituição Federal que delimitasse os poderes do presidente da República. Para irritação da elite paulista, Vargas nomeou interventores de sua confiança para ocupar todos os cargos políticos no estado. 

A série de protestos na capital paulista contra a ditadura Vargas teve início em 25 de janeiro de 1932, dia do aniversário da cidade, quando 100 mil pessoas se reuniram na Praça da Sé. No dia 23 de maio, um grupo de 300 pessoas, a maioria estudantes, tentou invadir a sede do Partido Popular Paulista (PPP), fundado na Revolução de 30 e favorável a Vargas, no centro da capital. Foram recebidos a bala – os jovens Martins, Miragaia e Camargo morreram no local, enquanto vários outros manifestantes ficaram feridos. O estudante Dráusio, que tinha apenas 14 anos, morreu cinco dias depois no hospital.

No dia seguinte ao episódio, sob forte comoção, foi criada uma organização civil e paramilitar batizada de MMDC, com objetivo de resistir à ditadura varguista e exigir a convocação de uma Assembleia Nacional Constituinte. O movimento ganhou amplo apoio popular e posteriormente coordenou os esforços de guerra para a criação de um Exército Constitucionalista, visando recrutar voluntários e arrecadar fundos.

Mesmo sabendo que não teriam condições de fazer frente ao poderio militar do governo federal, os paulistas pegaram em armas em 9 de julho de 1932, na chamada Revolução Constitucionalista. Esperavam obter apoio de Minas Gerais, Mato Grosso e Rio Grande do Sul, o que não se confirmou.

No total, foram 87 dias de combates (de 9 de julho a 4 de outubro de 1932), com um saldo oficial de 934 mortos, embora outras estimativas tenham contado até 2.200 mortos. Apesar da derrota militar do movimento, algumas de suas principais reivindicações foram atendidas posteriormente — como a nomeação de um interventor civil e paulista, a convocação de uma Assembleia Constituinte e a promulgação de uma nova Constituição em 1934 (que duraria até o novo golpe varguista, de 1937, que instituiu o Estado Novo).

Os restos mortais dos quatro jovens da sigla M.M.D.C. estão sepultados no mausoléu do Obelisco do Ibirapuera, em São Paulo. Mais recentemente, em 2011, os nomes de Martins, Miragaia, Dráusio e Camargo, mártires paulistas da Revolução Constitucionalista de 1932, foram inscritos no Livro dos Heróis da Pátria.

Veja também
Líder da Revolução Farroupilha
Leia mais
Sertanista foi ‘bandeirante do século 19’ na região amazônica
Leia mais
De Tigre da Abolição a proclamador civil da República
Leia mais