Joaquim Nabuco
Líder abolicionista foi um dos intelectuais mais influentes do século 19

O político, diplomata, historiador, jurista, poeta, jornalista e líder abolicionista Joaquim Aurélio Barreto Nabuco de Araújo (1849-1910), conhecido com Joaquim Nabuco, foi um dos intelectuais brasileiros mais influentes da segunda metade do século 19.
Nascido no Recife numa família escravocrata, Nabuco morou até os 8 anos com uma madrinha no Engenho Massangana, em Cabo de Santo Agostinho, convivendo com escravos. Nesse período, o pai – o juiz criminal José Tomás Nabuco de Araújo – havia se mudado para o Rio de Janeiro com a mãe para assumir uma cadeira de deputado no Parlamento Imperial.
Nabuco juntou-se depois à família, no Rio, onde se formaria em bacharel em Letras com apenas 15 anos, pelo Colégio Pedro II. Foi quando começou a trocar cartas com o escritor Machado de Assis, de quem se tornaria um grande amigo e com quem, muitos anos depois, participou da criação da Academia Brasileira de Letras (ABL).
Em 1866, Nabuco decidiu se mudar para São Paulo para estudar na Faculdade de Direito do Largo de São Francisco, um dos principais centros liberais e abolicionistas do Brasil Imperial– onde foi colega dos futuros presidentes Rodrigues Alves e Afonso Pena e cultivou uma amizade pessoal com o poeta Castro Alves e o jurista Ruy Barbosa. Virou líder estudantil e, aos 18 anos, com outros colegas da faculdade, Joaquim Nabuco fundou “A Tribuna Liberal”.
Apesar da intensa articulação com intelectuais, preferiu concluir o curso de Direito em Recife. Logo após se formar como advogado, Nabuco escandalizou a elite pernambucana ao defender um escravo, Tomás, que havia sido condenado à morte pelo assassinato do seu dono e do guarda que o havia prendido. O jovem advogado fez uma defesa eloquente no tribunal, conseguindo reduzir a pena para a prisão perpétua. Nesse período, ainda se diplomou no Recife em Ciências Sociais e Jurídicas e escreveu o livro A Escravidão (que só seria publicado após sua morte).
Polêmico e erudito, a partir dos 21 anos daria início a uma trajetória brilhante. De volta para o Rio, começou a trabalhar no escritório do pai e, paralelamente, atuou como colaborador do jornal “A Reforma”, onde defendia a monarquia e passava a ganhar destaque como defensor do fim da escravidão.
Orador cativante, foi um dos percursores do movimento abolicionista. Afirmava que a escravidão era responsável pela maioria dos problemas da sociedade brasileira, mas defendia que a abolição deveria ser discutida de forma ampla e aprovada apenas pelo Parlamento, rejeitando movimentos violentos.
Suas posições políticas também fugiam do lugar comum da época. Segundo o cientista político Vamireh Chacon, Nabuco defendia um liberalismo social que mesclava diversas concepções — liberdade e igualdade mais a solidariedade do cristianismo social e liberal do seu tempo. Ao lado de Ruy Barbosa, também levantou a bandeira pela liberdade religiosa no Brasil — que, na época, tinha a religião católica como oficial –, pregando a separação entre Estado e Religião, bem como a laicidade do ensino público.
Em 1872, Nabuco pegou o dinheiro herdado após a morte da madrinha e planejou passar um ano na Europa. Durante a viagem de navio, engatou um romance com a investidora financeira e filantropa Eufrásia Teixeira Leite, herdeira de uma das maiores fortunas do mundo à época. O relacionamento duraria 14 anos, com Eufrásia vivendo em Paris e Nabuco, nem sempre presente. Entre 1874 e 1876, por exemplo, ele morou no Rio, onde fundou com Machado de Assis e outros três amigos o periódico “Época”, de curta duração, até ser designado como adido na Embaixada do Brasil em Washington (EUA).
Em 1878, foi transferido para a representação brasileira em Londres. A morte do pai, porém, o fez voltar ao Brasil e dar início à carreira política. Foi eleito deputado por Pernambuco e, ao lado de outros jovens parlamentares, iniciou a campanha em favor da abolição da escravatura.
Nabuco publicaria vários livros sobre o tema, lutando pela abolição em várias frentes. Aproveitou um recesso parlamentar para viajar para a Europa e articular contato com sociedades abolicionistas em Lisboa, Madri, Espanha e Londres. Na volta, Nabuco organizou com André Rebouças e instalou em sua residência a Sociedade Brasileira Contra a Escravidão, por meio da qual coordenava a propaganda abolicionista na imprensa e por meio de reuniões e conferências. Lançou nesta época o jornal “O Abolicionista”.
Em 1880, começaram as decepções na área política. Apresentou projeto de lei de sua autoria prevendo o fim gradual da escravidão (em 10 anos), rejeitado em plenário. Perdeu a reeleição para o Parlamento, em 1882. Mas seguiu na luta abolicionista até a aprovação da Lei Áurea, em 1888.
Joaquim Nabuco recebeu a notícia da proclamação da República, em 1889, quando estava em sua casa na ilha de Paquetá, para onde se mudara ao se casar, meses antes, com Evelina Torres Soares Ribeiro, com quem teria cinco filhos. Nos primeiros anos da República, tentou, através do Jornal do Brasil, debater ideias políticas e criticar o novo regime. Em 1898, decidiu se mudar para Londres com a família.
Mais tarde ainda serviria como embaixador nos Estados Unidos (1905-1910), onde se tornou um grande propagador dos Lusíadas de Camões (em 1908, recebeu o grau de doutor honoris causa em Letras pela Universidade Yale). Embora doente, surdo e com problemas no coração, Nabuco permaneceu na representação diplomática até a morte, em 1910, aos 60 anos.
Seu legado o credencia como um dos principais intelectuais de sua geração. Escreveu mais de uma dezena de livros sobre vários temas, de abolição a literatura, passando por história, poesias e ensaios. Entre eles, Camões e os Lusíadas (1872), L’Amour est Dieu – poesias líricas (1874), O Abolicionismo (1883), A intervenção estrangeira durante a revolta – história diplomática (1896), Um estadista do Império – biografia do pai, em 3 tomos (1897-1899), Minha formação – memórias (1900) e A Escravidão. Anos depois, foi lançada a coleção Obras Completas (14 volumes), organizada por Celso Cunha (1947-1949).
Sua maior contribuição, porém, seguramente foi na luta abolicionista. “A escravidão permanecerá por muito tempo como a característica nacional do Brasil“, sentenciou Nabuco, há mais de um século. Na data de seu nascimento, 19 de agosto, comemora-se o Dia do Historiador. Em 2 de junho de 2014, o nome de Joaquim Aurélio Barreto Nabuco de Araújo foi inscrito no Livro dos Heróis da Pátria.