Povos Originários
Indígenas também lutaram na Guerra do Paraguai

A participação de povos indígenas na Guerra do Paraguai (1864-1870) tem relatos de invasões de aldeias do lado brasileiro por tropas paraguaias, combates sangrentos na foz do Rio Paraguai, promessas não cumpridas por parte do governo imperial e muitas histórias de batalhas vitoriosas incorporadas à tradição oral das tribos, passadas por várias gerações.
A presença de várias tribos na região fronteiriça tornou inevitável o envolvimento de comunidades indígenas no maior conflito entre nações na história da América do Sul, que deixou cerca de 50 mil soldados brasileiros mortos e pelo menos 150 mil baixas do lado paraguaio. A historiografia oficial contabiliza a participação de tribos de pelo menos três estados – Mato Grosso do Sul, Pernambuco e Paraná.
Entre os indígenas havia voluntários, mas grande parte deles era levada à força para o campo de batalha – da mesma forma que negros, forros ou escravos, eram alvo de recrutamento compulsório. De Pernambuco, um batalhão composto por 82 integrantes da tribo Xucuru foi convocado e chegou a participar da Batalha de Tuiuti – pouco mais de uma dezena sobreviveu. Do Paraná, o capitão Libânio Iguajuru, um cacique Guarani Kaiowá, liderou 55 indígenas de sua tribo.
A disputa por um território na região dos rios Apa e Blanco, reivindicado pelos dois países e onde sempre existiram comunidades indígenas Terenas, Guaicurus, Kadiwéus e Mbayás, no atual Mato Grosso do Sul, foi o estopim do conflito, em 1864. No ano seguinte, após uma invasão paraguaia, os Terenas e Guaicurus foram os primeiros a defender o território brasileiro e conter os paraguaios, enquanto o Exército se dirigia para a região.
Há relatos de que os integrantes da tribo Terena da aldeia de Naxedaxe se armaram por conta própria para se defenderem dos paraguaios em Miranda.
Os Kadiwéus, por sua vez, já eram conhecidos e temidos por colonizadores espanhóis e portugueses. Detinham um amplo rebanho de cavalos domesticados, que usavam desde o século 17 para defender suas terras. Em 1865, os Kadiwéus atacaram o Exército paraguaio às margens do rio Apa sob comando de seu líder, Nawilo.
Na ofensiva, os kadiwéus conseguiram conquistar o Forte de Coimbra, utilizado pelos paraguaios para o transporte de mantimentos. O levante comandado por Nawilo lhe rendeu o posto de general da Guarda Nacional brasileira.
Uma lenda dos Kadiwéus conta que, no fim do século 19, o imperador D. Pedro II lhes deu a terra onde vivem ainda hoje. Mas a primeira medição da reserva data da virada para o século 20. Oficialmente, porém, ela só foi demarcada, homologada e registrada em 1984 — nela vivem por volta de 1,7 mil indígenas da etnia, junto a Chamacocos, Kinikinaus e Terenas.
Apesar da participação ativa de outras tribos, com o final da guerra, boa parte das terras dos povos originários foram usurpadas por militares e por grandes fazendeiros. A falta de demarcação ainda motiva conflitos entre indígenas e integrantes de outras etnias no Mato Grosso do Sul e ao longo da região fronteiriça.