Frei Caneca
O líder revolucionário que morreu como mártir

Joaquim da Silva Rabelo (1779-1825) nasceu no Recife e depois de ser consagrado frei carmelita adotou o nome de Joaquim do Amor Divino Caneca (o último sobrenome em homenagem ao pai, que fabricava canecas). Mas o religioso, professor e jornalista entraria para a história como Frei Caneca, um adepto das ideias liberais e republicanas que participou de dois movimentos cruciais do Nordeste durante o processo de independência do Brasil, a Revolução Republicana (1817) e a Confederação do Equador (1824), sendo que Frei Caneca morreu no último como mártir.
A defesa de um modelo liberal de Estado e a revolta contra os altos impostos enviados para a Corte, no Rio de Janeiro, uniram comerciantes, padres, alguns oficiais, senhores de engenho e maçons (incluindo Caneca), insatisfeitos com os privilégios, monopólio e abusos fiscais que beneficiavam os portugueses nos anos que antecederam a independência. O movimento de 1817 estava sendo articulado para o dia 4 de abril, mas o governador Caetano Pinto de Miranda Montenegro soube antes, tentou esmagá-lo e acabou deposto.
Foi criado um governo provisório –com adesão de Ceará, Paraíba e Rio Grande do Norte – que durou apenas 75 dias, até a chegada de tropas portuguesas por terra e mar no Recife. Os principais líderes da Revolução Pernambucana, como Domingos Teotônio e o Padre Miguelinho, acabaram executados. Frei Caneca, que teve participação menor, foi preso e enviado para Salvador.
Anistiado em 1821, voltou a Pernambuco e fundou, em 1823 o Tífis Pernambucano, jornal que tinha um caráter libertário e republicano, inspirado nas ideias dos filósofos do Iluminismo, como Montesquieu e Rousseau. No jornal, Frei Caneca lapidou uma frase que ficou imortalizada: “Quem bebe da minha caneca tem sede de liberdade”.
Em julho de 1824, irritados com a decisão de D. Pedro I de pôr fim à Assembleia Constituinte convocada no ano anterior, os líderes pernambucanos lançaram um manifesto rompendo com o Rio de Janeiro, então capital federal, e convocando a formação de uma república. A chamada Confederação do Equador, república separatista, se espalhou por estados vizinhos. Dessa vez, Frei Caneca teve participação decisiva, começando a publicar as bases de um pacto social visando criar uma Constituição do novo Estado. D. Pedro I esmagou o movimento rapidamente. Frei Caneca foi preso e condenado à forca, denunciado como “escritor de papéis incendiários” e um dos chefes da rebelião. No dia da execução, três carrascos se recusaram a cumprir a sentença. Frei Caneca acabou fuzilado. Seu corpo, deixado num caixão em frente ao Convento das Carmelitas, foi enterrado pelos padres em um local até hoje desconhecido.