Cipriano Barata
A voz crítica do Primeiro Reinado

Médico, político, jornalista e ativista num período crítico da história brasileira – que marcou a independência de Portugal, a construção da nação brasileira e o surgimento da imprensa no país –, o baiano Cipriano José Barata de Almeida (1762-1838) nasceu numa família abastada de Salvador e formou-se em Medicina na Universidade Coimbra, mas fez fama nacional como um jornalista combativo do Primeiro Reinado. Criou uma rede de contatos pessoais em várias províncias, por sua atuação jornalística e também por seu ativismo político.
Influenciado pela Revolução Francesa, como muitos intelectuais da época, Cipriano Barata defendia ideias liberais e republicanas, combatia a escravidão e participou de duas revoltas importantes do Nordeste do período – a Conjuração Baiana de 1798, em que acabou detido, e da Revolução Pernambucana de 1817, da qual foi um dos idealizadores, embora estivesse preso.
Em dezembro de 1821, Cipriano tomou posse como deputado nas Cortes de Lisboa, eleito pela Bahia. Participou ativamente das atividades parlamentares, frequentemente hostilizado pelos deputados portugueses, e em outubro de 1822 fugiu com outros seis deputados para Londres (entre eles, o padre Diogo Feijó e Antonio Carlos de Andrada), onde lançaram um manifesto conjunto.
Os discursos e posicionamentos políticos de Cipriano foram impressos no Rio e em Pernambuco, onde decidiu viver depois de voltar da Europa, dando projeção nacional a Cipriano. O ativismo político influenciou sua carreira jornalística, iniciada na Gazeta Pernambucana. Em abril de 1823, Cipriano fundou a Sentinela da Liberdade na Guarita de Pernambuco, marcado por críticas ácidas ao governo imperial de D. Pedro I, defesa da autonomia das províncias e um olhar agudo aos problemas sociais e econômicos da época.
Cipriano chegou a ser eleito deputado pela Bahia para a Assembleia Constituinte, em 1823, mas recusou-se a tomar posse em protesto pelo cerco das tropas imperiais ao prédio onde ela se reuniria (e acabaria dissolvida por D. Pedro I). Foi preso novamente, na Fortaleza de Brum, em Pernambuco, em novembro de 1823. Transferido para o Rio de Janeiro, acabaria passando por inúmeras prisões, permanecendo detido até 1830. Mas continuava a escrever, nomeando seus jornais como Sentinela da Liberdade e variando o final do título de acordo com a prisão onde se encontrava.
O historiador baiano Marco Morel observa que, “no campo da definição da nacionalidade e da modernização política, algumas das reivindicações colocadas por Cipriano foram almejadas, como a derrota do campo ‘absolutista-português’, pela qual tanto se bateu, do ponto de vista político, administrativo, econômico e cultural; e a constitucionalização do país baseada nos postulados do moderno liberalismo político, ainda que sob vertente mais conservadora do que a desejada por Barata e seus correligionários”.
Doente, Cipriano abandonou as atividades políticas em 1836 e retirou-se para Natal, onde morreria dois anos depois. Seus descendentes seguiram sua linhagem política. Um dos netos, Cândido Barata Ribeiro, médico pediatra, republicano e abolicionista durante o Segundo Reinado, seria o primeiro prefeito do Distrito Federal (RJ) com a proclamação da República, além de senador. Outro neto, Atanagildo Barata, engenheiro e veterano da Guerra do Paraguai, foi preso em 1894 por envolver-se na Revolta da Armada.
Agildo Barata, filho de Atanagildo, capitão do Exército e líder comunista, esteve à frente da fracassada insurreição de 1935 na Praia Vermelha, no Rio de Janeiro, conhecida como Intentona Comunista. Outros descendentes famosos de Cipriano são o ator Agildo Ribeiro (filho de Agildo Barata), o cantor lírico e barítono Paulo Fortes (1923 – 1997, bisneto de Cândido Barata Ribeiro) e o escritor Diamor Barata.