Tereza de Benguela

A escravizada que virou rainha e hoje simboliza o Dia da Mulher Negra

Tereza de Benguela foi uma negra escravizada que virou rainha e por duas décadas comandou o maior quilombo do Mato Grosso da era colonial. Ela levou quase 250 anos para ser reconhecida pela historiografia oficial e pelo governo brasileiro como um símbolo de liderança e resistência da mulher negra da sociedade escravista do século 18.

Não se sabe se Tereza nasceu no Brasil ou foi escravizada na África (Benguela é uma região de Angola). Após fugir das garras de seu dono, o capitão Timóteo Pereira Gomes, Tereza chegou por volta de 1740 no Quilombo do Quariterê, situado às margens do Rio Guaporé, próximo da fronteira mato-grossense com a Bolívia, onde viviam ex-escravizados e indígenas.

Tereza casou-se com José Piolho, que chefiava o quilombo, e sempre participou da gestão do território, onde plantavam mandioca e algodão, usavam embarcações para pesca nos rios do Pantanal e mantinham um sistema de defesa bem-organizado, com armas trocadas com os brancos ou roubadas das vilas próximas.

Tereza ajudou a desenvolver um modelo decisório no quilombo que lembra o sistema parlamentarista, pelo qual ex-escravizados e indígenas escolhidos pela comunidade se reuniam semanalmente para sugerir medidas, que deveriam ser aprovadas pelo líder José Piolho. Por seu carisma e poder de liderança, passou a ser chamada de Rainha Tereza.

Após a morte do companheiro, por volta de 1750, Tereza assumiu a chefia do Quariterê, comandando ao longo de duas décadas a resistência contra as investidas militares ordenadas por Luís Pinto de Sousa Coutinho, o governador da capitania de Mato Grosso.

O quilombo caiu em 1770, e seus mais de 100 integrantes (cerca de 70% ex-escravizados e os demais, indígenas) foram mortos ou capturados. Os registros sobre como Tereza morreu são contraditórios. Uma versão aponta que ela se suicidou após cair numa emboscada preparada por bandeirantes enviados pelo governador da capitania. Outra versão diz que Tereza foi capturada, assassinada e ainda teve a cabeça pendurada no centro do quilombo.

Sua história só começou a ser mais difundida no século 20. Em 1994,  a Unidos do Viradouro homenageou a líder quilombola com o enredo “Teresa de Benguela, uma rainha negra no Pantanal”, ficando em 3º lugar no Carnaval carioca.

O reconhecimento oficial só viria em 2014, quando o governo da presidente Dilma Rousseff instituiu a Lei 12.987/2014, por meio da qual foi criado o Dia Nacional de Tereza de Benguela e da Mulher Negra, que passou a ser comemorado em 25 de julho — mesma data do Dia Internacional da Mulher Negra, Latinoamericana e Caribenha.

Passados 250 anos, a mulher negra no Brasil continua lutando contra o preconceito e a desigualdade. De acordo com o IBGE, 71% das mulheres negras estão em ocupações precárias e informais, contra 54% das mulheres brancas. O salário médio da trabalhadora negra continua sendo a metade do salário da trabalhadora branca. A trajetória de Tereza Benguela e o avanço do movimento negro servem de inspiração para as mulheres negras mudarem esse quadro.

Veja também
Outros Heróis - Bárbara Alencar
A primeira presa política do Brasil
Leia mais
Outros Heróis - Maria Quitéria
A mulher que se vestiu de soldado para lutar
Leia mais
Outros Heróis - Maria Felipa
Reconhecimento tardio
Leia mais