Anita Garibaldi

A heroína de dois mundos

Poucas mulheres do início do século 19 tiveram uma trajetória tão heroica quanto a catarinense Ana Maria de Jesus Ribeiro (1821-1849), que entrou para a história como Anita Garibaldi. Ao lado do marido, o revolucionário italiano Giuseppe Garibaldi, Anita lutou contra a monarquia e pela causa republicana da Revolução Farroupilha, no sul do país, foi perseguida e presa, conseguiu fugir para a Europa e acabaria acompanhando Garibaldi na guerra pela unificação da Itália. Por isso, Anita é conhecida até hoje no Brasil e na Itália como “heroína de dois mundos”.

Terceira de uma família numerosa de 10 filhos, Anita nasceu em Laguna e perdeu o pai quando tinha apenas 12 anos. Depois, foi influenciada pelo tio paterno, Antônio da Silva Ribeiro, um tropeiro que visitava frequentemente a família da menina em Laguna e sempre se declarava republicano – Ribeiro chegou a ser perseguido e teve sua casa onde morava, na cidade de Lages, incendiada por soldados imperiais.

Apesar de sempre se mostrar simpática à causa do tio, Anita acabou casando-se com um monarquista, o sapateiro Manoel Duarte de Aguiar, no dia que completou 14 anos de idade. O casamento, arranjado, jamais vingou. O casal mantinha relação fria e distante, sem filhos. Dois anos depois, o sapateiro alistou-se como voluntário no Exército Imperial, abandonando a esposa.

Anita tinha 18 anos quando o exército farroupilha ocupou Laguna após derrotar os navios da Marinha Imperial. A ofensiva foi comandada pelo revolucionário italiano Giuseppe Garibaldi –que havia fugido da Itália após ser condenado à morte pelo rei da Sardenha e aderido à Revolução Farroupilha com apoio de Bento Gonçalves (o primeiro presidente da República Rio-Grandense).

Anita acabou conhecendo Garibaldi, 14 anos mais velho, e passou a acompanhá-lo nas campanhas militares. Durante a Batalha dos Curitibanos, em 1840, Anita foi feita prisioneira. Aproveitou um descuido dos guardas e fugiu para o Rio Grande do Sul, encontrando Garibaldi oito dias depois em Vacaria. No mesmo ano, o casal teve um filho e, no ano seguinte, mudou-se com a criança para Montevidéu, onde pretendiam estabelecer residência. Ali, Garibaldi assumiu o controle da frota uruguaia, em guerra contra a esquadra argentina.

Em 1847, Anita e Garibaldi já tinham quatro filhos. A morte de um deles, aos 2 anos de idade, porém, levou o casal a decidir viver na Europa. Anita desembarcou em Nice, na França, em 1848 para deixar as crianças sob cuidados de parentes de Garibaldi. Os dois estavam juntos quando, em 9 de fevereiro de 1849, foi proclamada a República Romana. Mas tiveram de fugir diante da invasão franco-austríaca de Roma. Para completar, Anita estava novamente grávida.

Ao chegarem à República de San Marino, o casal viveu um impasse. A gravidez de Anita apresentou problemas e Garibaldi não aceitou o salvo-conduto oferecido pelo embaixador americano, pois temia pela morte dos dois (e do bebê) caso fossem presos. Em fuga, o casal chegou a uma fazenda perto de Ravena. Anita não resistiu e morreu, aos 28 anos, junto com o bebê, em 4 de agosto de 1849.

Garibaldi não pôde nem acompanhar o enterro da esposa. Caçado pelos austríacos, partiu para um exílio de dez anos. Passou pela Suíça e por Nice, seguindo depois para os EUA, de onde zarpou para uma viagem de dois anos pelo Pacífico, passando por Peru, Nicarágua e El Salvador. Voltaria à Itália apenas em 1854, para retomar a luta contra os austríacos. Após obter a unificação italiana e aclamado como herói, Garibaldi ainda seria eleito para o Parlamento e se casaria mais uma vez. Morreu em 1882, aos 74 anos.

A brasileira, porém, ficaria imortalizada como sua grande companheira. Em homenagem a Anita Garibaldi, foi erguido um monumento na Colina Gianículo, em Roma — local da batalha heroica em defesa da República Romana –, onde estão enterrados seus restos.

Veja também
Outros Heróis - Maria Quitéria
A mulher que se vestiu de soldado para lutar
Leia mais
Outros Heróis - Bárbara Alencar
A primeira presa política do Brasil
Leia mais
Mulher à frente do seu tempo, foi precursora da música popular brasileira
Leia mais