Quase toda história do Brasil cabe em uma biblioteca

Quando Dom João VI veio para o Brasil, em 1808, trouxe consigo o acervo literário particular. Fugiu de Napoleão Bonaparte, mas não deixou para trás seus pertences ‘de estimação’. A bordo da nau estavam mais de 60 mil peças, entre documentos da monarquia, jóias, tapeçarias, ouro e também a Biblioteca Real, sempre guardada como motivo de orgulho e tida por intelectuais como uma das mais completas da Europa.
As caixas com precioso acervo começaram a chegar no Rio de Janeiro em 1810, dois anos depois da família real aportar na Bahia. Em 29 de outubro do mesmo ano foram depositadas no Convento do Carmo, data que passou a ser considerada como inauguração da Fundação Real Biblioteca. Antes restrito a pessoas autorizadas, somente quatro anos depois todo o material pode ser consultado pelo público em geral.
O fato é que o acervo foi ganhando mais corpo e hoje a Fundação Biblioteca Nacional – os nomes mudaram até chegar ao definitivo -, que fica na avenida Rio Branco, na Cinelândia, no Rio de Janeiro, é considerada pela Unesco como uma das dez maiores bibliotecas nacionais do mundo. Cerca de 10 milhões de obras estão distribuídas em um belíssimo prédio, projetado por Francisco Marcelino de Souza Aguiar e construído entre 1905 e 1910.
Para além de consultar o acervo, visitas guiadas diárias são realizadas de hora em hora, de maneira gratuita. O guia descreve toda a história da construção, as obras mais importantes sobre a história do país que constam nela e os objetos de arte que decoram o espaço. No térreo, por exemplo, estão desenhos de Debret da época do Brasil-colônia e fotografias feitas por Dom Pedro II. Na subida da escadaria, um busto de Dom João VI recebe os visitantes.
A título de consulta, cartas trocadas entre a Marquesa de Santos e Dom Pedro I podem ser lidas, além de missivas escritas pelo Patriarca da Independência, José Bonifácio (estas em destaque no hall de entrada da Biblioteca). Também há a primeira edição de Os Lusíadas, de Camões, de 1572, a Carta Régia de Abertura dos Portos do Brasil, assinada por Dom João, o primeiro jornal impresso no mundo, datado de 1601, e a primeira edição da Arte da Gramática da Língua Portuguesa de autoria do Padre José de Anchieta.
Para quem quiser folhear os livros da Biblioteca, ver periódicos, enciclopédias, dicionários, não há necessidade de agendamento prévio. Já o material especial como manuscritos, documentos iconográficos, livros raros e documentos cartográficos, é necessária uma reserva de horário. Tudo pode ser feito no site da Biblioteca Nacional. Para quem não pode ir até o Rio, há a possibilidade da consulta remota pelo BNDigital, além da visita ao prédio que pode ser feito virtualmente, também no site da instituição.
Em cartaz
Até janeiro de 2023, a exposição Caminhos da Independência – 1822-2022 – 200 Anos de Brasil pode ser visitada no local, no Salão de Obras Raras. A proposta da mostra é permitir que o público encontre os extratos da originalidade nacional através dos documentos. Nela há os vários caminhos de Brasil que desembarcam em um só lugar: a nação, múltipla. A visita é gratuita e ocorre de segunda a sexta, das 10h às 17h, mesmo horário de funcionamento da Biblioteca Nacional.
(Miriam Gimenes/Agenda Bonifácio)