Papel dos bandeirantes ganha revisão histórica

Foto: Miriam Gimenes (Estátua de Fernão Dias)
Não é de hoje que a figura do bandeirante tem sido revista na história brasileira. Se antes eram exaltados como heróis, agora estão situados em seus devidos lugares, como homens que exploraram várias partes do país, principalmente em busca de ouro e na captura de escravizados fugidos e indígenas. Entre os mais conhecidos estão Antônio Raposo Tavares, Domingo Jorge Velho, Fernão Dias Pais, Jerônimo Leitão e Manuel Borba Gato – este último teve a estátua em sua homenagem, na Zona Sul de São Paulo, incendiada ano passado.
Além do trabalho de inúmeros historiadores para divulgarem a biografia real desses homens, também é possível conhecer a de alguns deles na mostra Uma História do Brasil, em cartaz no Museu do Ipiranga, recém-inaugurado. Logo no saguão de entrada do prédio histórico estão algumas dessas figuras, que são vistas e apresentadas sob uma nova ótica. As pinturas e esculturas representam colonizadores, bandeirantes e personalidades que atuaram na independência do Brasil, muitas feitas a pedido das elites que governaram São Paulo no início do século 20.
Para atender a estes ‘mecenas’ da época, são visões consideradas racistas, pois não valoriza a importância de indígenas e negros, além de sexistas, porque as mulheres não são visualizadas. Entre os bandeirantes homenageados logo de início, estão duas enormes esculturas de Raposo Tavares e Fernão Dias, feitas pelo italiano Luigi Brizzolara. Elas foram encomendadas pelo governo do Estado de São Paulo – em uma época em que se pensava que estes nomes eram os grandes benfeitores do país – e confeccionadas em mármore carrara. Tavares, por exemplo, é colocado com traços europeus, observando o horizonte em referência ao seu papel de conquista ao território. Junto aos seus pés tem ramos de café, símbolo da riqueza de São Paulo no momento em que as obras foram feitas.
Já na exposição Passados Imaginados, na sala 1, há o quadro Domingos Jorge Velho e o locotenente Antônio Fernandes de Abreu, do pintor Benedito Calixto. Foi o primeiro retrato de um bandeirante realizado em São Paulo no século 20 (1901-2000) e também a primeira pintura com esse tema adquirida para o Museu, em 1903. Ele representa o bandeirante que comandou a destruição do Quilombo dos Palmares junto a seu principal auxiliar.
É importante dizer que em nenhum momento, quando se faz a visita ao museu, estes nomes são colocados como heróis, como no século passado. Os educadores e curadores que podem ser abordados no local situam seus reais papéis nesse contexto, inclusive trazendo a visão crítica de suas atuações.
MONUMENTO
Um dos maiores monumentos feito em homenagem a estes homens é o Monumento às Bandeiras, inaugurado em 1953 na Praça Armando de Salles Oliveira, que fica ao lado do Parque do Ibirapuera. Ele começou a ser desenhado em 1920, pelo escultor Victor Brecheret. À exemplo da estátua de Borba Gato, o monumento – que tem homens, mulheres, crianças, agressores e capturados – foi pichado por três vezes, a última delas em 2016.
(Miriam Gimenes/Agenda Bonifácio)