Novo Museu do Ipiranga reabre com o dobro de área construída, 12 exposições e mais acessibilidade

Um espaço para apreciar com os olhos e mãos. O novo Museu do Ipiranga, que será aberto para o público dia 8 de setembro após 9 anos – os ingressos podem ser reservados hoje a partir das 10h em www.museudoipiranga.org.br -, além da recuperação do prédio histórico e obras, tem o dobro de área construída, 12 exposições, algumas em locais nunca visitados pelo público, e acessibilidade em todos os andares. E neste último quesito, em especial, o espaço cultural acertou em cheio: muitos dos quadros e esculturas expostos são acompanhados de mesa tátil, ou seja, quem não enxerga consegue apreciar o museu e aprender sobre parte da história brasileira com o tato.
O acesso ao prédio monumento tem de ser feito pela parte nova, logo acima do Jardim Francês – também restaurado, uma atração à parte. É ali onde estarão livraria, cafeteria, ambas ainda em fase de finalização, e as escadas rolantes, que fazem o trajeto dos visitantes até o hall de entrada. Uma vez na frente da suntuosa escadaria com mármores vindos da Itália, já é possível entrar no clima do que será visto até então. A Agenda Bonifácio esteve na visita guiada realizada pela imprensa e, em um passeio de pouco mais de duas horas, conheceu as novas dependências do museu, as mostras que ficarão permanentes e o tão famoso Salão Nobre.
“Antes de fechar, o museu costumava receber 300 mil pessoas ao ano e a nossa expectativa é que triplique esse número”, contabiliza o vice-diretor do museu, Amâncio Jorge de Oliveira. Em coletiva antes da visita guiada ele afirmou que a única parte que ficou para ser entregue até o fim do ano é o esperado mirante, com vista para os quatro cantos do bairro do Ipiranga.
Mas não vai faltar o que ver por lá. A área de exposições do prédio triplicou e passou de 12 para 49 salas – que abrigam 11 mostras de longa duração e uma temporária. As que ficarão permanentes são divididas entre Para Entender o Museu – e aqui cabe um destaque para a imensa maquete do Museu do Ipiranga, abrigada na última sala à esquerda da escadaria – e Para Entender a Sociedade. Nelas estão cerca de 3.162 mil itens pertencentes ao museu, 562 ítens de outras coleções e 76 reproduções e fac-símiles. “O museu ficou fechado, mas nós continuamos trabalhando. Durante estes 9 anos continuamos integrando ítens ao nosso acervo”, afirmou a curadora da exposição sobre o museu, a historiadora Solange Ferraz de Lima.
São pinturas, esculturas, objetos, móveis, moedas, documentos, fotografias, objetos em tecido e madeira que dão o tom de diversos períodos da nossa história. Em uma das salas, onde são retratadas as profissões que contam a história do país, há ferramentas usadas por Santos Dumont e um belíssimo espelho que pertenceu ao ‘pai da aviação’ . “Aqui é a parte da selfie”, adianta a guia local.
Em novembro entra em cartaz a única exposição temporária, que se chamará Memórias da Independência e vai inaugurar a área de expansão sob a Esplanada. Nelas serão tratadas diferentes práticas memoriais e comemorativas relacionadas à emancipação brasileira e o público poderá entender a fundo o processo de ruptura com Portugal. A expectativa é que fique em cartaz por quatro meses.
ACESSIBILIDADE
Além do acesso físico ter sido adaptado, com elevadores e rampas, foram implementados no museu 333 recursos multissensoriais. A estátua de Dom Pedro I, por exemplo, que fica no alto da escadaria já mencionada, tem uma réplica de cerca de 30 centímetros, que pode ser tocada por quem tem deficiência de visão. As telas também são táteis, com reproduções em metal, dioramas (maquetes tridimensionais), além de plantas táteis para localização dos visitantes, dispositivos olfativos, reproduções em 3D, cadernos em Braile, amostras de texturas e objetos originais – como os que adornam as pilastras do museu -, além do piso podotátil nas salas.
SALÃO NOBRE
Após a visita às salas expositivas menores, a sugestão é deixar, por último, a visita ao Salão Nobre, onde está o famoso quadro Independência ou Morte, de Pedro Américo, que reconta a cena da independência. Além de um recurso audiovisual que detalha como foi o processo de composição da tela – pintada em Florença entre os anos de 1885 e 1888 -, existem inúmeras mesas táteis, que também tratam sobre os demais quadros do espaço, entre eles a pintura do Patriarca da Independência, José Bonifácio, da imperatriz Maria Leopoldina com os filhos e Maria Quitéria de Jesus, baiana que entrou para história como a primeira mulher a integrar as Forças Armadas.
“É importante deixar claro que as obras de arte que estão aqui mostram como a história era narrada no início do século passado e nós temos de fazer sempre perguntas. Pensar criticamente. São representações do passado, uma maneira de narrar a história. Temos de refletir sobre quem estava narrando e ver com os olhos de hoje”, destaca a educadora que explica as obras no Salão Nobre, Denise Peixoto.
REINAUGURAÇÃO
O público está ansioso para visitar as dependências novas do museu. E a programação de reabertura terá a duração de três dias: em 6 de setembro haverá uma solenidade para autoridades e patrocinadores; dia 7 será a vez de inauguração simbólica para convidados, com a participação de 200 estudantes de escolas públicas estaduais e municipais, além de trabalhadores que fizeram a obra do museu e suas famílias. Por fim, no dia 8, o prédio histórico estará aberto para o público em geral, mediante agendamento pelo site já citado ou pela plataforma Sympla. Durante dois meses, até 6 de novembro, os ingressos serão gratuitos e o valor da cobrança depois dessa data, segundo o vice-diretor do museu, ainda está sendo definido.
Dos dias 7 a 11 será realizado um festival para comemorar a reabertura e o bicentenário no Parque da Independência. A programação foi divulgada na última sexta-feira pela Secretaria de Cultura e Economia Criativa do Estado de São Paulo e conta com shows de mais de 300 artistas que se apresentarão com 80 bailarinos e mais de 100 componentes da Orquestra Jovem do Estado/ Emesp Tom Jobim. Um espetáculo de multilinguagens e diversos estilos musicais e 14 grandes nomes da música brasileira como: Maestro João Carlos Martins, Daniel, Fafá de Belém, Margareth Menezes, Criolo, Vanessa da Mata, Johnny Hooker, Silva, Geraldo Azevedo. Mais informações estão aqui.
(Miriam Gimenes/Agenda Bonifácio)
Publicada em 5 de setembro de 2022