Ítens encontrados durante restauração do Museu do Ipiranga viram peças de acervo

Quanta história guarda um prédio histórico? A olhos vistos inúmeras. Mas e por debaixo de um Edifício-Monumento como o Museu Paulista? Centenas. E esse número pode ser contabilizado há pouco, quando cerca de 400 objetos foram encontrados em escavações e realocações de árvores na área externa do novo museu, além do contrapiso do prédio histórico. Com a supervisão de uma equipe de arqueólogos, no entorno do edifício foram encontrados ossos, fragmentos de porcelana, moedas e objetos de uso pessoal – entre eles um cachimbo e um cálice de licor. Todos passam a integrar o acervo.
“O acompanhamento arqueológico é um importante instrumento da legislação brasileira para a proteção do patrimônio arqueológico, que são bens da União, garantindo sua preservação e estudo”, explica o Dr. Renato Kipnis, diretor da Scientia e coordenador do projeto. “Além disso, joga luz num aspecto importante do passado, da vida cotidiana da cidade, que normalmente não é documentado ou não é relatado”.
O primeiro item achado foi uma dentadura, da primeira metade do século 20, que tinha um dente com restauração em ouro – ou imitação -, o que confere certo status ao ‘proprietário’. Ela foi encontrada durante o processo de remoção de árvores do jardim para replantio. Outros objetos, que indicam que o entorno do Museu era um local usado para atividades religiosas distintas, de origem afro-brasileiras. O destaque vai para uma garrafa de vidro que, no gargalo, tinha sete tiras de papel enrolados com o nome de Claudete Jahaqui (ou Iahaqui, com ‘I’).
Entre os ossos achados das escavações na área externa do museu estão pedaços de crânio, pélvis e pés de rês (vaca ou boi) com marcas de cortes retos, realizados com instrumentos de metal; um fragmento de mandíbula que pode ter pertencido a um gato e dentes de porco doméstico. Também foram encontrados fragmentos de pratos, xícaras e potes de porcelana. A maior parte data do fim do século 19 e início do 20. Um deles parece ser o fundo de um prato raso, com o registro Société CéramiqueMaestrich, marca holandesa de 1859.
O canteiro de obras do museu revelou ainda duas moedas que, dependendo da época, equivaleriam de R$ 2,50 até R$ 10. A mais antiga, da Europa, chegou às ruas no fim de 1901. A outra, comemorativa, é da segunda metade da década de 1930. De um lado, tem uma locomotiva sobre trilhos; do outro, o busto de Visconde de Mauá (foto), industrial que criou a 1ª via férrea do País, em 1854, o que lhe rendeu seu primeiro título de nobreza, o de Barão. Já no contrapiso da edificação foi localizado um cachimbo de barro que, após análise, indica ser uma peça importada dos Estados Unidos. Outro achado foi um cálice de licor, feito de vidro, conservado em sua integridade. A equipe responsável pelo monitoramento e análise dos achados arqueológicos questiona se essas peças foram de operários que participaram da construção do prédio histórico.