Exposição mostra como o Carnaval paulista reproduziu a História do Brasil em desfiles

Foto: Ivete Pugliese, destaque da Vai-Vai

As escolas de samba sempre buscaram inspiração em personagens e situações da História do Brasil para seus desfiles de Carnaval. Para comemorar o bicentenário da independência, a Liga Independente das Escolas de Samba de São Paulo preparou uma mostra cheia de atrações na Fábrica do Samba, em São Paulo, que se propõe a contar as passagens mais importantes do processo que resultou no Grito do Ipiranga usando como referência os desfiles paulistanos que retrataram a história brasileira ao longo dos anos.

A exposição “Bicentenário — Contado por Enredos e Fantasias” será inaugurada no domingo, dia 23, e vai até 30 de dezembro. A proposta é oferecer ao público uma experiência multissensorial e imersiva dos últimos 200 anos, na qual o visitante percorre dez estações, cada uma dedicada a um episódio-chave da história do Brasil e como ele foi explorado nos Carnavais paulistas dos últimos 30 anos, com fotos, vídeos, áudios e fantasias, tudo empacotado num ambiente cenográfico que remete aos desfiles no Sambódromo.

Fruto de uma parceria da Liga Independente com a Secretaria de Cultura e Economia Criativa do Estado de São Paulo, a mostra representa um marco para a comunidade paulista do samba. A começar pelo local escolhido para a exposição. “É a primeira vez que a Fábrica do Samba se abre para um evento que não seja do próprio Carnaval”, afirma Lúcia Helena da Silva, responsável pelo Departamento Sociocultural da Liga e curadora da mostra, referindo-se ao espaço gigantesco, que abriga os barracões de 14 escolas do Grupo Especial – onde são montados os carros alegóricos e preparados parte das fantasias do desfile do ano seguinte.

Por motivos de segurança e também para não mostrar os segredos que as Escolas estão preparando para o próximo Carnaval, não será permitida a entrada nos barracões das agremiações, mas o público terá a oportunidade de conhecer o processo de produção de alegorias e fantasias, incluído ao longo das estações da mostra.

A exposição começa quando o visitante atravessa um portal, simbolizado por um relógio, como se voltasse 200 anos no tempo. “Todas as dez estações são ambientadas com fatos ou elementos do período histórico temático”, explica Lúcia Helena. “Além de sempre fazermos uma correlação do tema com enredos usados em Carnavais do passado, incluímos em cada estação truques e recursos que as escolas usam para reproduzir um elemento no desfile, como um rio cenográfico, fogo fake, e etc”, acrescenta.

As demais estações incluem uma abordagem sobre as riquezas naturais do Brasil Colônia e curiosidade sobre a família imperial “entre outros temas, para não estragar a surpresa”, como diz Lúcia Helena. Ao final da jornada, há uma sala de vivência, que oferece uma oficina para as crianças fazerem arte com o que viram, além de paredes com mapa mostrando os locais históricos de São Paulo ligados à independência.

Ao sair da sala de vivência, o visitante terá a experiência do Carnaval em si, se deparando com uma exposição de fantasias de desfiles passados. São seis fantasias de grande porte, só de destaque, a maioria restaurada. Neste espaço há também várias informações referentes a uma escola de samba e uma explicação sobre seus elementos essenciais, como a ala das baianas, casal de Mestre-Sala e Porta-Bandeira, por exemplo, e um mapa da cidade localizando as 34 escolas que compõem a Liga.

“Para o público de fora será uma oportunidade de conhecer de perto o ambiente de uma escola de samba”, afirma Lúcia Helena. Aliás, logo no dia de abertura da mostra (domingo, 23) está programado um show, às 14h, da Imperatriz da Pauliceia. Em todos os finais de semana seguintes, até dezembro, haverá shows no sábado e no domingo de escolas filiadas à Liga.

“Nosso objetivo é trazer estudantes da periferia e do interior durante a semana, oferecer oficinas para ensinar técnicas usadas pelas escolas de samba, para criar fantasias e adereços, enfim, diversificar o público que normalmente acompanha os desfiles e, com isso, tirar o estigma de que o Carnaval dura apenas quatro dias no ano”, diz Lúcia Helena.

A entrada para a mostra na Fábrica do Samba (Avenida Dr. Abraão Ribeiro, nº 505, em São Paulo) é gratuita e há estacionamento grátis disponível no local. A exposição “Bicentenário — Contado por Enredos e Fantasias” abre de quarta a domingo, das 10h às 17h.

Veja também
Criada por escravizados, capoeira se consolida como símbolo cultural e esportivo e mira Olimpíada
Leia mais
Reprodução/Wikimedia Commons
Maria Firmina dos Reis, primeira romancista negra do Brasil, ganha papel de destaque na pauta cultural
Leia mais
Miriam Gimenes/Agenda Bonifácio
Novo Museu do Ipiranga reabre com o dobro de área construída, 12 exposições e mais acessibilidade
Leia mais