Calçada do Lorena, por onde Dom Pedro I passou antes de dar ‘o grito do Ipiranga’, pode ser visitada no Parque Estadual Caminhos do Mar

Miriam Gimenes
Foto: Fachada do Rancho da Maioridade
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Dom Pedro I, no alto de um cavalo – hoje já sabemos se tratar de uma mula – subiu a colina do Ipiranga e deu o famoso grito de Independência. O ano era 1822 e o mês setembro, mais precisamente no dia 7. O ato, que está prestes a completar 200 anos, é repleto de histórias – de antes, durante e depois – e grande parte delas podem ser conhecidas em passeio promovido no Parque Estadual Caminhos do Mar. É lá que está a famosa Calçada do Lorena, construída no final do século 18, trajeto que até então príncipe, futuro imperador, percorreu para chegar ao planalto vindo de Santos pouco antes de oficializar a separação política de Brasil e Portugal.

E como é possível recolher informações históricas desse processo em um passeio na Serra do Mar? É que além de poder percorrer a já mencionada calçada, o visitante também encontra no percurso monumentos que foram inaugurados há 100 anos, em ocasião do centenário da independência, e que agora passam por restauro, para comemorar o bicentenário. São eles: o Pontilhão Raiz da Serra, Cruzeiro Quinhentista, Monumento ao Pico, Belvedere Circular – estes todos prontos. Ainda em processo de restauro estão o Pouso de Paranapiacaba (90% concluído), a Calçada (10%) o Padrão Lorena, Ruínas e o Rancho da Maioridade. 

O Parque, que desde o ano passado está sob a responsabilidade da concessionária Parquetur, recebe visitas diárias, inclusive de grupos escolares, para essa ‘viagem’ ao passado. “A gente tem aqui a estrada que é parte da história do Brasil, desde a época do descobrimento. Tivemos a chegada dos portugueses colonizadores pelo litoral, São Vicente foi a primeira vila do país, e os índios já usavam esse caminho como rota de conexão com o planalto. E os portugueses, naturalmente, passaram a utilizá-lo também. No ano de 1790 começa a construção da Calçada do Lorena, terminando em 1792, e esse foi o trajeto usado por Dom Pedro antes de dar o grito no rio”, explica o gestor do Parque Caminhos do Mar, Carlos Telecki. 

A reportagem da Agenda Bonifácio teve a oportunidade de refazer esse trajeto de aproximadamente 7 quilômetros até próximo a Cubatão em um dia ensolarado. No percurso foi possível entender um pouco mais a fundo a história da efeméride, refletir as dificuldades de locomoção há dois séculos – é recomendado uso de tênis confortável – e conhecer a fauna e flora preservadas no local, além de ver de perto o processo de restauro dos monumentos, que ajudam a contar a história do país. “Um dos mais famosos é o Pouso de Paranapiacaba, onde além de trocarmos todo o telhado, também tivemos de pintar os azulejos. O legal é que hoje os artistas que fazem isso são filhos dos que estiveram aqui em 1981, para o mesmo trabalho. Tem fotos deles crianças vendo o trabalho dos pais. Então estão super conectados pela proposta histórica”, ressalta Telecki. 

O bom do passeio é que ele é democrático. Cada visitante pode escolher a melhor forma de fazê-lo – existem vans disponibilizadas para quem tem problemas de locomoção, que podem ser acionadas a qualquer momento do percurso. “Nesse processo de restauro estamos deixando os monumentos acessíveis, com plataformas elevatórias a serem instaladas. Recebemos famílias, grupos escolares, esportistas, trilheiros e aventureiros. Estamos construindo uma tirolesa, para atingir principalmente esse perfil de público. Também abrigamos eventos de ciclismo, triatlon, eventos de carros antigos. A ideia é, de fato, atender a todos os públicos”, ressalta o responsável pela Parquetur, que elenca outras ações que serão feitas no espaço, entre elas uma praia artificial. 

ROTEIROS

São, ao todo, três roteiros disponibilizados: o histórico, com 16 km ida e volta, com caminhada pela Estrada Caminho do Mar (Estrada Velha de Santos) por um trilha asfaltada onde estão localizados os mirantes para a Baixada Santista e os Monumentos Históricos; o ecoturístico, com 7 km ida e volta, que parte da Calçada do Lorena, pavimentado em pedras de 1792, e passa por alguns trechos bem íngremes, e atravessa a Estrada Caminho do Mar em 3 pontos; e o de aventura, com 9 km ida e volta, que passa pela Trilha da Cachoeira da Torre com subidas e descidas de morros passando por várias fitofisionomias da Mata Atlântica, chegando então na cachoeira que tem visual parcial para a Baixada Santista e poço para banho.

Tanto o histórico quanto o ecoturístico são autoguiados pelos visitantes – exceto os grupos escolares. Cada monumento conta com monitores, que dão as informações históricas e ambientais do Parque, que funciona de quarta a domingo e feriados, das 8h às 17h. Somente o roteiro de aventura requer agendamento prévio pelo WhatsApp 11 97279-5616.

Os preços do ingresso para os adultos, de sexta a domingo, é R$ 50 (de quarta e quinta é R$ 40). O estacionamento do carro custa R$ 25 e o transporte interno de van é R$ 30 por pessoa. Mais informações aqui

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