Teatro Guarany recebe o espetáculo ‘O Homem que Sonhava Pernas Passos e Canções’

O Teatro Guarany, em Santos, será palco do espetáculo O Homem que Sonhava Pernas Passos e Canções. A montagem tem como tema condutor uma revisão, de forma antropofágica, da História do Brasil, de 1500 aos dias de hoje, observada através das vozes dissonantes dos poetas brasileiros de cada período, associando-as de forma crítica e atualizadora à cada etapa do nosso desenvolvimento civilizatório, tendo como eixo central e costura interna dos assuntos tratados recortes construídos a partir de ações e comentários de personagens habitados no imaginário do povo brasileiro, e canções que se conformam ao ideário em que nos reconhecemos em particulares culturais.

A Semana de Arte Moderna, ocorrida em fevereiro de 1922, representou um marco definitivo de ruptura e inovação no ambiente da produção e consumo da arte brasileira, estabelecendo-se com questionamentos e novas proposituras para os padrões artísticos então vigentes, cujos ditames ecoaram de forma determinante por várias décadas além, influenciando gerações e mentes, e se firmando como o que se deu a ser reconhecido como Movimento Modernista Brasileiro, teoricamente, dividido em três gerações compreendidas entre os anos de 1922 e 1945. Aos precursores, Graça Aranha, Mário de Andrade, Oswald de Andrade, Di Cavalcante, Victor Brecheret, Heitor Villa Lobos, Plínio Salgado, Menotti Del Picchia, Anita Malfatti, Tarsila do Amaral, entre outros, somam-se as gerações que se seguem em que, não menos exponenciais, despontam como novos pilares da cultura brasileira nomes como os de Cecília Meireles, Carlos Drummond de Andrade, Graciliano Ramos, Jorge Amado, Raquel de Queiroz, Vinícius de Moraes, Clarice Lispector, Erico Veríssimo, cada um em seu nicho de expressão – extensões do Movimento Modernista. Há os que defendem a teoria de que o Movimento Modernista Brasileiro transcende às três gerações que o representam em seu modelo “clássico”, ultrapassando os limites do tempo em versões que se apegam a determinados paradigmas tecidos em seus ideários. Neste sentido, vale ressaltar a importância do Cinema Novo, em que figuram de forma estelar nomes como os de Glauber Rocha, Joaquim Pedro de Andrade e Nelson Pereira dos Santos; a irreverência do Movimento Tropicalista e todos os seus Baianos, que revelou figuras como Caetano Veloso, Gilberto Gil e Rogério Duprat, além de toda a brasilidade dos Novos Baianos; as valiosas pesquisas formais desenvolvidas pelo Ballet Stagium, através dos seus diretores Marika Gidali e Décio Otero, e os paralelos em modernidade e crítica desenvolvidos pelo teatro de José Celso Martinez Corrêa; Chico Science e o Movimento Manguebeat; todos ecos de uma semana que dura mais de cem anos.

É dentro desta pluralidade alcançada pelo Movimento Modernista Brasileiro que o TEP (Teatro Experimental de Pesquisas), um dos mais longevos coletivos teatrais da cidade de Santos, litoral de São Paulo, apresenta a peça que se espraia a celebrar, através de rito teatral, os contornos expressivos da nossa brasilidade, apontados por meio das vozes dos nossos mais eminentes poetas, em passagens do tempo a reconstruir, antropofagicamente, a nossa própria história, explorando-a de forma a reverenciar a importância e atualização das ideias defendidas pelo movimento iniciado em 1922, marco este reconhecido como Semana de Arte Moderna, assim como refletir sobre a passagem dos 200 anos da Independência do Brasil, datas pontuais nesse ano celebradas.