“Surgimento da moda, no século 19, fruto da Revolução Industrial, mudou o papel da mulher no Brasil do Segundo Reinado”, diz a historiadora Joana Monteleone

Foto: Joana Monteleone
A forma com que homens e mulheres se vestem sempre foi vista como um espelho dos valores da sociedade de sua época. Tem sido assim, desde a Antiguidade até os dias atuais. O século 19, no entanto, marcou o surgimento da moda como um fator transformador de costumes, acompanhando a transição dos regimes monárquicos absolutistas para o florescimento de uma sociedade burguesa, voltada para o consumo, impulsionada pela Revolução Industrial. No Brasil, o conceito de moda como vemos hoje nasceu no Segundo Reinado (1841-1889), fruto das transformações sociais e políticas que o país vivia no período. O marco se deu em 1858, quando a Singer abriu a primeira loja para venda de máquinas de costura em território brasileiro, na Rua do Ouvidor, no Rio de Janeiro. A máquina de costura foi o indutor dessa revolução de costumes no Brasil imperial. “Até meados do século 19 só era aceitável às mulheres visitarem parentes ou ir à missa; com a consolidação da moda e a invenção da máquina de costura, saber costurar significava para as mulheres a possibilidade de alguma maneira sustentar os filhos ou a família, e elas entraram no mercado de trabalho”, diz a historiadora e editora Joana Monteleone, autora de O circuito das roupas (Editora Alameda, 2022), na entrevista a seguir. O livro, baseado em sua tese de doutorado em História Econômica pela Universidade de São Paulo, com o título de “O circuito das roupas: a Corte, o consumo e a moda (Rio de Janeiro, 1840-1889)”, traz revelações surpreendentes. Uma delas é que, entre 1850 e 1869, 68% das exportações do Reino Unido para o Brasil eram de tecidos (algodão, lã, linha e seda), chegando a 70% se for incluído roupa pronta. Pesquisadora com interesse em vários temas, Joana também é autora dos livros Sabores Urbanos (Alameda, 2015), Toda comida tem uma história (Oficina Raquel, 2017) e co-organizadora de A história na moda, a moda na história (Alameda 2019). Atualmente, Joana faz Pós-Doutorado na Cátedra Jaime Cortesão da USP, com o tema “Açúcar e Industrialização”.
Seu livro aponta o surgimento da moda no Brasil como um fenômeno social a partir do Segundo Reinando, num recorte que vai de 1841, com a coroação de D. Pedro II, até o Baile da Ilha Fiscal, em 1889. Quais foram as características políticas, sociais e econômicas do país e do mundo nesse período que possibilitaram o surgimento do conceito de moda como vemos hoje?
Esse é um período muito interessante no mundo e também na história do Brasil. Uma das características mais marcantes dessa época é a modernização da sociedade – o surgimento de novos maquinários e novas tecnologias. O século 19 tem essa ideia de progresso infinito, de evolução, de razão e transformação social que permeia toda a sociedade. Foram várias inovações que chegaram ao Brasil e nos conectaram com o resto do mundo. Uma delas, que é muito interessante, é a chegada de paquetes, ou navios regulares, no porto do Rio de Janeiro, a partir de 1850. Significava que a cada 20 dias tinha um navio chegando de Liverpool — o porto de Liverpool e a Inglaterra eram o centro do mundo na época. Ao mesmo tempo, começamos a conectar o próprio território brasileiro. Foi na época do Segundo Reinado, de D. Pedro II, que temos uma consolidação do território nacional, com a construção de ferrovias. Tivemos, na década de 1860, a construção de uma ferrovia que liga Rio de Janeiro a Petrópolis e de São Paulo a Santos. As ferrovias vão, portanto, se interiorizando. Essas ligações do país com o mundo e o surgimento de novas tecnologias e novas ideias vão mudar o cotidiano do país. Uma das novidades desse período é a transformação de costumes e da vida cotidiana por meio da moda. Ela chega com muita força, e a Revolução Industrial – que já estava ocorrendo havia bastante tempo – consegue exportar produtos ingleses para o Brasil, que passam a ser usados no dia a dia. Minha ideia no livro era mostrar como a chegada desses produtos, que eram basicamente tecidos – como mostram os mapas de importação e cobrança de impostos do período–, se transformam em roupas e como impactam o cotidiano da Corte, no Rio de Janeiro.
É muito interessante também como a criação da máquina de costura, que passou por vários processos de patentes, mas se consolidou a partir de 1850, impactou o mercado de trabalho e o papel da mulher na sociedade da época. Gostaria que você detalhasse os principais desdobramentos do surgimento da máquina de costura para a consolidação da moda como um agente de mudanças sociais e econômicas na Europa, EUA e também aqui no Brasil.
A história da máquina de costura é incrível para se pensar o século 19. É um produto de bastante evolução tecnológica. O mecanismo de uma máquina de costura tem muito a ver com a evolução dos relógios e dos relógios de bolso – que são os grandes artefatos do século 19. Como disse, essas transformações e novas tecnologias foram um diferencial desse período. E essas máquinas do século 19 têm uma característica mecânica, de roldanas com garras, uma gira e a outra prende. São todas interconectadas: a máquina de costura, os relógios e o revólver usam sempre uma tecnologia parecida e derivativa de outra – o relógio deu origem à máquina de costura, que deu origem ao revólver. O pensamento científico da época criava máquinas que transformavam de fato a sociedade. A ideia da criação da máquina de costura era a mesma dos enlatados: criar uma máquina que pudesse costurar uniformes de guerra com mais rapidez e segurança. E essa máquina foi sendo desenvolvida aos poucos. Cada criador mudou um pouco de seu mecanismo de funcionamento, até que nas décadas de 1840 e 1850 houve uma guerra de patentes tanto nos Estados Unidos como na Inglaterra e Alemanha. Nessa guerra de patentes, em especial nos EUA, existem seis grandes produtores que fazem um oligopólio de produção de máquinas de costura. Encabeçando esse oligopólio, tem um industrial – o Isaac Singer –, que pensa numa máquina mais leve, adaptável à vida cotidiana da mulher, como uma maneira interessante de vender essa máquina. Então ele está pensando tanto na produção dessas máquinas nas fábricas como na ponta final, na venda dessas máquinas para as mulheres. Ele coloca uma mulher na vitrine das lojas que vendiam o produto costurando algo – para mostrar que era fácil, que cada uma podia aprender a costurar por meio da máquina. Essa foi uma das inovações da Singer. A outra foi vender a máquina a prestação. Assim, a mulher comprava uma máquina de costura e, com a venda do trabalho que ela fazia com a máquina, ia pagando as prestações.
Ou seja, foi essencial para as mulheres…
A máquina funcionava como uma espécie de segurança financeira e econômica da mulher no caso de o marido abandoná-la, morrer na guerra ou de doença. Saber costurar significava a possibilidade de alguma maneira sustentar os filhos ou a família. Isso perdura até meados do século 20 –muitos de nós temos avós ou bisavós que eram costureiras. No caso do século 19, a máquina representou o ápice da tecnologia, sendo fabricada em massa e distribuída no mundo. É como os celulares de hoje, em termos de conexão. A máquina de costura foi de fato importante para o século 19. E ela vai revolucionar a sociedade no sentido de mudar a maneira como se produziam as roupas e também os guarda-chuvas, os espartilhos e outros produtos que demandavam tecido, como as malas. E temos dois tipos de trabalho com a máquina de costura. Um deles nas fábricas. De alguma maneira foram criadas indústrias de confecção de produtos, como de guarda-chuva ou de espartilhos, por exemplo, que passam a ser comercializados mundialmente. O segundo era dentro das casas, com costureiras contratadas, que vão fazer as roupas da família ou vão se tornar costureiras especializadas em fazer roupas para fora. Então, num primeiro momento, os ateliês de roupas e as modistas são muito importantes – elas têm as máquinas, os figurinos e as gravuras de moda, que passavam a circular com mais rapidez, e os jornais de moda. Tudo isso ajuda a fomentar essa cultura de transformação das roupas no século 19. A máquina passa a ser intrinsecamente associada ao trabalho feminino. Dentro das casas, isso era um trabalho e um não-trabalho. Eis a ideia do não-trabalho da mulher: mesmo se ela ficasse 12 horas fazendo roupas, como estava dentro de casa não era considerado um trabalho, no sentido em que saía de casa, o que era malvisto. Essa exploração do não-trabalho feminino sustenta muito essa protoindústria de confecção que passa a existir no século 19. E a máquina de costura também levantou várias discussões relativas ao corpo da mulher sobre um maquinário tão tecnológico e avançado naquela época. Uma das evoluções da máquina de costura foi o uso do pedal. A discussão era se mexer os pés no pedal excitava sexualmente as mulheres (as máquinas eram manuais, não havia energia elétrica) e se aquilo era adequado para elas. Isso foi uma discussão do século 19 que obviamente foi perdida depois e as mulheres passaram a trabalhar com as máquinas. O começo dessa indústria de confecção demanda um trabalho feminino, muito mal pago, explorado e que necessitava que as mulheres fizessem esse trabalho dentro de casa, contra duas ideias caras no século 19: nem os sindicatos masculinos que trabalhavam em fábricas queriam as mulheres lá – porque eram uma mão de obra bem mais barata — nem sair de casa era bem-visto, ainda que é nesse momento que elas começam a sair para rua.
Seu livro traz curiosidades bem interessantes, que ajudam a entender esse processo, muito ligado à Revolução Industrial. Um dado que me chamou a atenção é que, em 1861, existiam 3 mil fábricas de tecido na Inglaterra, que empregavam 600 mil operários. Com isso, entendemos o peso econômico exercido pelo tecido e pelas máquinas de costura, e como isso impactou o mundo na época. Outra curiosidade citada no livro é que logo no começo da máquina de costura, em 1830, um dos inventores, o francês Barthelemy Thimonnier, ao patentear a invenção, foi duramente atacado por alfaiates e modistas, que costuravam a mão, pois achavam que o ganho de escala com a invenção seria o fim do seu trabalho. Com isso, incendiaram o galpão onde esse inventor, que também era alfaiate, trabalhava e Thimonnier acabou morrendo na miséria. Como foi, aqui no Brasil, essa reação inicial à máquina de costura e ao papel da mulher?
A gente teve no começo do século 19 vários movimentos de operários e trabalhadores que vão destruir algumas máquinas. Eles achavam que as máquinas os colocavam na situação de opressão econômica. Muitas máquinas foram destruídas em diferentes partes do mundo. Esse caso citado é de um inventor francês, um alfaiate, que fez um modelo da máquina que depois foi muito desenvolvido e modificado, era um protótipo bem inicial, mas que deixou indignada uma população de trabalhadores que tinha uma especialidade, os alfaiates. Porque, um, tinham que aprender uma coisa nova e, dois, substituir o cotidiano deles – afinal uma máquina conseguia costurar mais do que uma pessoa à mão. Quando estava desenvolvendo minha tese de doutorado não tinha visitado acervos físicos de moda. Eu pesquisei balanços de importação, jornais da época, li muita literatura que descrevia os vestidos (José de Alencar, por exemplo) – porque gosto muito dessa linha-fina de economia e sociedade, economia e cultura –, e os estudos de museologia de moda eram muito iniciais. No final do ano passado, com a redução da pandemia, visitei alguns acervos de moda no Rio. Entre eles o da Domitila de Castro, a Marquesa de Santos, amante de D. Pedro I. Pude ver roupas delicadamente costuradas à mão. Visitei outro acervo em que as roupas eram costuradas a máquina, no Museu Casa de Hera. É possível ver a diferença entre as roupas e a transformação da máquina de costura em fazer a vestimenta. Sobre a outra parte da pergunta, como as máquinas transformaram as mulheres: essa ideia de moda e transformação constante das roupas que se espalha pela Corte de D. Pedro II no século 19 de fato impacta o cotidiano das mulheres. Até meados do século 19 só era aceitável às mulheres visitarem parentes ou ir à missa, a vida delas era mesmo em torno da casa e da igreja. Com as transformações tecnológicas e de consumo no capitalismo, vemos as mulheres saindo de casa para tomar algo que era muito moderno na época, o sorvete –que eram feitos de forma manual, nas sorveteiras batidas com gelo químico. Por isso, elas tinham de ir para a sorveteria para degustar um sorvete. Também vemos as mulheres indo às modistas para fazer as roupas, passeando pelas ruas para usufruir dessa cidade ligada ao consumo – no Rio de Janeiro, era na Rua do Ouvidor. Nisso temos as vitrines das lojas que se transformam, as mercadorias que enchem as lojas de coisas novas. Ou seja, as mulheres passam a frequentar o espaço das cidades e, ao mesmo tempo, um tipo de trabalho feminino que é aceito de maneira mais natural pela sociedade, ligado à venda e consumo de produtos. Surgem vendedoras de chapéus, de luvas, de sapatos, as modistas que vão atender essas mulheres, que vão fazer esses vestidos, e profissões que passam a ser aceitas—por exemplo, jornalistas de moda e escritoras que podiam escrever sobre isso. Passamos a ter várias profissões de camada média ligadas à entrada no mundo do trabalho das mulheres.
Como estamos falando da história da moda no Brasil e no mundo, é natural as pessoas ficarem curiosas como se deu a evolução da vestimenta, em especial das mulheres, no século XIX. Gostaria que você montasse uma linha do tempo dos tipos de roupas, modelos e acessórios mais usados, e como o desenvolvimento da moda modificou os padrões de se vestir e de as mulheres se mostrarem elegantes e antenadas com as novidades.
É interessante que, conforme a Revolução Industrial se aprofunda, vemos transformações importantes nas roupas femininas. Se no começo do século 19 a gente tinha algo chamado moda império (foto 1), que são cinturas bem-marcadas embaixo do busto, as roupas em tecido leve, geralmente em branco, a ideia de se voltar a um período que remetesse à Grécia Antiga – mulheres de branco e cabelos com cachinhos, que lembrassem dessa época grega –, e também à época do romantismo, você tem tudo isso influenciando essas vestimentas. Na Europa era interessante, por causa do clima frio. Havia vestimentas no inverno que eram complicadas para as mulheres usarem: mantinhas, xales e meias. E tinha muita discussão se elas ficavam muito resfriadas por usarem pouca roupa — muitas vezes, essas roupas eram quase que transparentes (foto 2). Essas roupas foram se modificando ao longo do século 19. Primeiro aparecem mangas bufantes e compridas, e os vestidos passam a ter outras cores. Depois têm frufru nos barrados e rendas. Paulatinamente, as saias vão aumentando. Vale destacar que no século 19 temos uma separação brutal de gêneros. Enquanto as mulheres têm as saias repetidas vezes sendo aumentadas, até chegarem no tamanho máximo da crinolina, que é uma armação de ferro que deixava a saias no formato balão (foto 3), com vestido muito rendados e com bastante ornamentos, os homens se vestem cada vez mais sobriamente, como se fossem uma chaminé em preto: a cartola, o paletó preto, a camisa branca e a calça bem reta. Você tem o homem bem magrinho e reto, e as mulheres com saias bufantes que acentuam as características femininas –quadril, busto, essa “redondeza” feminina. E depois desse volume máximo das saias, representado pela crinolina –que foi uma tentativa de deixar a vestimenta feminina mais leve, porque para deixar as saias volumosas antes da crinolina era preciso ter sobressaias, o que deixava tudo muito pesado –, as saias vão diminuindo e se alongando na silhueta atrás da mulher (foto 4). O traseiro é ressaltado por almofadinhas e crinolinas que vão para trás. Portanto, a mulher do final do século 19, de frente eram esguias e, de lado, era perceptível a almofadinha. Essas foram as transformações básicas da silhueta feminina do século 19.
É interessante que, nesse período, o ato de se vestir, principalmente para as mulheres, era uma operação complexa, que necessitava de ajuda – o que reforça a importância que as pessoas davam para a vestimenta, a maneira como você se apresentava em público e a necessidade de mostrar os vestidos e tecidos novos que vinham da Europa. Aqui no Brasil se seguia a moda europeia. Mas tinha algum nome que se destacava por criar algo diferente ou o que se fazia era cópia do que vinha de fora? Mesmo porque tinha a questão do clima daqui – o verão aqui é diferente do europeu.
Precisamos levar em conta que essas roupas usadas no século 19 eram muito ligadas à classe social – ou seja, pelas mulheres da elite. Elas precisavam e tinham ajuda aqui no Brasil de mulheres escravizadas, como mucamas, que ajudavam elas a se vestir, davam retoques finais. Muitas roupas precisavam ser costuradas no corpo da mulher para ela poder sair, principalmente as roupas de grandes eventos sociais, como de ir à ópera. Mas havia uma simplificação dessas roupas no cotidiano das mulheres do século 19 para as que ficavam em casa, como hoje. Muitas vezes, as mucamas acompanhavam as mulheres nas festas para dar retoques no local. Era comum cair um pedaço do vestido, quando elas dançavam demais. A roupa nesse período estava ligada à ideia de distinção social, de marcar a diferenciação entre as classes de forma acentuada. Ser uma mulher da Corte tinha de estar marcado pela maneira como se vestia: os tecidos, as mangas, as luvas, as botas, o recato, a virtude, tudo estava inserido nesse contexto. A gente tinha ateliês de moda que traziam roupas da Europa. E precisamos entender que, ao contrário de hoje – em que prezamos a criação de moda, a inovação e a mudança constante –, no século 19 havia uma ideia de pertencimento de classe. Ou seja, uma mulher da Corte brasileira tinha de se parecer com uma mulher da Corte francesa, espanhola ou inglesa ou da alta aristocracia desses países. Era uma moda mundial. Não se devia vestir diferente aqui no Brasil de uma condessa francesa, por exemplo – mesmo porque as relações de parentesco entre as nobrezas eram muito fortes. Essa ideia de criação, de democratização da moda – de usar o que valoriza a mulher individualmente, que é muito comum hoje –, simplesmente não existia. O que vigorava era o pertencimento de classe. Dificilmente existiam ateliês de moda, aqui e na Europa, que procurassem fazer algo muito inovador. O que existia eram “modinhas”. Existe uma história curiosa de uma moça conhecida da elite do Rio de Janeiro que encomendou um vestido ao famoso ateliê do Bernard Wallerstein, na Rua do Ouvidor. Uma das costureiras errou no vestido dela, colocando uma prega a mais que mostrava o pé. A moça fez sucesso no baile e todas as mulheres depois queriam essa prega a mais…Eram situações assim, pontuais.
Tudo isso aconteceu no reinado de D. Pedro II. Ele era considerado um imperador elegante? Como os brasileiros e as brasileiras eram vistos no exterior em relação à moda?
D. Pedro II era considerado, sim, um imperador elegante. Ele comprava suas roupas no alfaiate mais importante de Londres, Henry Poole. As roupas dele se adequavam ao que se esperava do imperador de um país importante, como era o Brasil. As mulheres de elite do Brasil, quando viajavam para Paris ou Londres, tinham o hábito de desembarcar e, logo na primeira semana, encomendar vestidos da temporada para as modistas conhecidas da época — precisamos lembrar que nessas viagens para o exterior, que eram longas, elas ficavam muito tempo fora. Elas também se enquadravam no padrão europeu.
Antes de terminar, vou repetir uma pergunta que sempre fazemos para os entrevistados da Agenda Bonifácio: a senhora acha que o Brasil é de fato um país independente?
Bom, somos independentes de Portugal, certo? De Portugal não somos dependentes…Mas acho que é complexo falar em país independente numa sociedade globalizada e neocolonial em que a gente vive. Então, como ser independente, nesse contexto? É independente na medida em que as relações de forças econômicas no mundo nos permitem. Quais são os países de fato que são independentes ou totalmente autossuficientes? Existe uma correlação de forças econômicas que permeia as relações entre os países, o que os torna muito interdependentes. E obviamente tem essa ideia do neocolonialismo, da exploração de países dependentes, que ainda é muito forte. E ainda estamos nisso: somos um país agroexportador, que vive disso. É complexo.
(José Eduardo Barella/Agenda Bonifácio)
Publicado em 20 de julho de 2022