O príncipe francês que levou uma surra na Bahia

Francisco Fernando de Orléans (1818-1900), o príncipe de Joinville, entrou para a história como comandante da esquadra francesa encarregada de repatriar os restos mortais de Napoleão Bonaparte (1769-1821), sepultados duas décadas antes na Ilha de Santa Helena. Também ficou conhecido por ter se casado com D. Francisca de Bragança (1824-1898), uma das filhas de D. Pedro I, recebendo como dote um pedaço de terra em Santa Catarina que, anos depois, daria lugar à cidade de Joinville. Terceiro filho do rei Luís Filipe I, da França, o jovem contra-almirante embarcou em 1840 com as fragatas “Belle-Poule” e “Favorite”, em direção à Ilha de Santa Helena, situada no meio do Oceano Atlântico, entre as costas do Brasil e da África. Durante uma escala da esquadra na Bahia, o príncipe francês desembarcou com alguns tripulantes para caçar animais exóticos, como papagaios e tucanos, numa mata fechada do litoral. Ao retornar à praia para embarcar de volta às fragatas, Francisco Fernando e os oficiais franceses se viram cercados por um bando de moradores do vilarejo local armados de facões, sabres e paus. Antes que pudessem dizer algo foram espancados por um bom tempo, até que o príncipe, num português rudimentar, se identificou como comandante dos navios franceses ancorados na praia. Constrangidos, os locais explicaram que haviam confundido os franceses com jagunços a mando de um político da região que havia ameaçado os moradores do vilarejo por não terem apoiado a Revolta da Sabinada (1837-1838). Na sequência, a esquadra francesa aportou no Rio de Janeiro, onde o príncipe de Joinville conheceu D. Francisca. O príncipe francês voltaria em 1843 ao Rio, para o matrimônio. O casal passou então a viver na França. O dote recebido pelo príncipe para se casar com a filha de D. Pedro I — terras em Santa Catarina batizadas de Colônia Dona Francisca – acabaria sendo em parte negociado pela Sociedade Colonizadora Hamburguesa para acomodar imigrantes alemães. Só depois que a colônia seria rebatizada como Joinville, em homenagem ao príncipe. O dinheiro obtido com venda das terras ajudou a família real francesa a se manter depois que o rei Luís Filipe foi destronado, em 1848.