Liteira, o meio de transporte da era colonial movido por escravos

Meio de transporte urbano surgido na Antiguidade, a liteira foi largamente utilizada no período colonial do Brasil para deslocamentos curtos. Sua viabilidade — principalmente em cidades como Ouro Preto e Salvador, com ladeiras íngremes — foi assegurada com uso de mão-de-obra escrava, que carregava o passageiro sentado numa cadeira. A opção pelo uso de liteiras em relação ao de charretes, por exemplo, era comum nas cidades por causa das ruas estreitas, de terra ou com calçamentos pé-de-moleque, que causavam desconforto ao passageiro durante o deslocamento, além de questões sanitárias – várias cidades controlavam o uso de charretes nas vias públicas, por causa das fezes e urina dos animais. O modelo clássico consistia de uma pequena cabine fechada, com o assento no interior. Havia três tipos de liteiras, que variavam de acordo com o luxo e o tamanho. A menor (e mais leve) era suportada por apenas uma vara externa, por meio da qual dois escravos – um na frente e outro atrás da cabine – levavam o passageiro. A outra, intermediária, tinha duas varas laterais, que os escravos carregavam com melhor distribuição do peso. As liteiras maiores carregavam duas pessoas na cabine e eram transportadas por dois escravos na frente e dois atrás. Até meados do século 19, as famílias mais ricas tinham suas próprias liteiras. Quem não tinha costumava alugar, num tipo de serviço parecido com o de táxi ou de Uber dos dias de hoje. O fato de as liteiras serem usadas em eventos sociais, como ida a teatros, festas religiosas e locais com grande presença da elite, fez com que os modelos fossem ganhando sofisticação — as peças eram bem trabalhadas, em madeira de cedro, com cortina na janela e bancos estofados. O drama é que esse luxo todo impactava no peso da cabine. Por isso, os condutores das liteiras mais sofisticadas eram selecionados entre os escravos mais fortes.