Brasil, o país que nasceu falido

A declaração de independência de Portugal, oficializada pela historiografia com o Grito do Ipiranga de D. Pedro, em 7 de setembro de 1882, esconde um detalhe nem sempre lembrado nas comemorações em torno da data – o Brasil independente nasceu como um país literalmente falido. Chega a ser surpreendente que D. Pedro I, coroado imperador em outubro de 1822, tenha conseguido lidar com revoltas regionais que contestavam seu poder nas províncias e ainda expulsar as tropas portuguesas à frente de um país recém-nascido e com os cofres vazios. Os problemas começaram bem antes. Em abril de 1821, quando o então príncipe regente de 22 anos assumiu a administração da colônia com a partida de D. João VI para Portugal, as despesas correntes representavam mais do que o dobro da arrecadação de impostos com as províncias. Após o Grito do Ipiranga, a dívida nacional triplicou nos cinco anos seguintes. Só entre 1824 e 1829, o governo brasileiro levantou empréstimos em Londres para pagar uma indenização de 2 milhões de libras esterlinas a Portugal, em troca do reconhecimento da independência, e outros 8 milhões de libras para rolar as dívidas e pagar as despesas. Para piorar, nesse período, os setores que ajudavam a impulsionar a economia — como as exportações geradas pela produção de cana de açúcar e pela mineração — começaram a cair, e as plantações de café só iriam se consolidar como o grande produto exportador a partir da década de de 1840. A demora nessa transição acabaria estimulando o governo imperial a tomar medidas “criativas” para evitar a insolvência do país, como o truque do Tesouro de comprar folhas de cobre por 500 a 600 réis a libra para cunhar moedas com valor de face a 1.280 réis, o dobro do custo original. A estratégia funcionou no curto prazo, mas a emissão sem lastro gerou inflação. A dívida externa brasileira, com isso, continuou crescendo e avançou até o século 21.

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