As camélias abolicionistas da princesa Isabel

A ligação da princesa Isabel (1846-1921), a Redentora, com o fim da escravidão vai além da assinatura protocolar da Lei Áurea, em 13 de maio de 1888, que concedeu liberdade total aos cerca de 700 mil escravos que ainda existiam no Brasil. A filha do imperador D. Pedro II se envolveu diretamente com líderes abolicionistas nos anos anteriores à decretação da lei. Entre eles, com o comerciante português José de Seixas Magalhães, que fabricava e vendia malas e mantinha uma chácara de 2.700 metros quadrados numa região que hoje abriga o bairro do Leblon, no Rio de Janeiro. Ligado à liderança da Confederação Abolicionista – entre eles, Joaquim Nabuco, Joaquim Serra, João Clapp, José do Patrocínio e André Rebouças –, Magalhães plantava camélias que havia trazido do Oriente na Chácara do Leblon com a ajuda de escravos foragidos que abrigava em sua propriedade, o que era de conhecimento da princesa Isabel e do governo imperial. Na Corte, o sítio era conhecido como “Quilombo da Camélias do Leblon”. Magalhães costumava presentear a princesa com a planta, que ela usava para decorar sua mesa, no Palácio das Laranjeiras, e também sua capela particular. Isabel chegou a usar camélia branca para adornar seu vestido em atos públicos. A planta passou a servir como uma espécie de código, pelo qual os abolicionistas podiam ser identificados, principalmente na hora de auxiliar os escravos em fugas. No ato da assinatura da Lei Áurea, a Redentora recebeu dois buquês de camélias. Um artificial, entregue por Clapp, diretor da Confederação Abolicionista, e outro de camélias naturais, do Quilombo do Leblon, presenteadas por Magalhães.

Veja também
O general português que tentou enquadrar D. Pedro
Leia mais
Primeira Constituição do país não saiu do papel
Leia mais
Imprensa nasceu no Brasil sob censura
Leia mais